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Presentes de fim de ano

Thaís Viveiro

O final de ano no Brasil é musicalmente agitado. Nessa época o país costuma receber grandes atrações internacionais em seus palcos. Este ano não foi exceção. TIM Festival e Terra trouxeram mais de 20 atrações internacionais à São Paulo. O público, vendo os preços absurdos dos ingressos, tem que escolher quais shows apreciará e a imprensa, por sua vez, quais eventos estarão em suas páginas. A Bravo!, tendo que manter um equilbrio entre as seções da revista, deve fazer uma seleção criteriosa para a cobertura dos eventos. A tarefa não é fácil.

A revista, no entanto, resolveu bem a questão quanto aos dois dos maiores festivais de música do país. O primeiro, nasceu como festival de jazz e hoje traz também atrações da nova cena do rock. O outro, o Festival Planeta Terra, a acabou de realizar sua segunda edição, mas já desponta como um grande festival de rock e música eletrônica. Nenhum dos eventos poderiam passar despercebidos pela revista. A solução foi trazer uma entrevista com uma atração de cada festival. Tratando-se de uma revista mensal, acho que foi uma forma muito pertinente de lembrar dos eventos, pois as matéria não perderiam sua validade depois de passados os shows.
Sonny Rollins no parque IbirapueraA revista escolheu aqueles que consideraram a principal atração de cada festival, ambos veteranos em seus respctivos estilos. Para o Tim, José Flávio Júvior entrevistou o lendário Sonny Rollins. Se o saxofonista era a principal atração do evento, não é possível garantir, uma vez que o festival trouxe músicos que agradariam a públicos diferentes. A escolha, no entanto, foi certeira. O artista era o único que, além da apresentação no Auditório Ibirapuera, iria fazer uma apresentação ao ar livre e de graça no evento, uma ótima oportunidade para os que ficassem com curiosidade de conhecer seu trabalho depois de ler a entrevista. Acabou sendo o show de maior sucesso no festival, que sofreu com cancelamentos de última hora. Para o Festival Planeta Terra, foi entrevistado, pelo mesmo repórter, o vocalista da banda veterana do rock Jesus and Mary Chain.
Os comentários sobre os eventos, no entanto, não se limitaram às páginas da revista. Outras atrações dos festivais foram apresentadas no site da Bravo!. O repórter comentou sobre os outros shows do Planeta Terra em podcast. Já para o Tim Festival, festival que teve suas atrações divididas em várias noites da mesma semana, José Flávio apresentou todos os artistas e mostrou suas apostas. O leitor da Bravo! não teve muitas dúvidas na hora de comprar seu ingresso.

November 27, 2008 at 3:32 pm Leave a comment

Busca por um legado

Thaís Viveiro

cantora, compositora, pianista, cineasta e coreógrafa performáticaNo encontro Bravo! do mês de outubro, o editor de conteúdo da revista, João Gabriel de Lima, lançou a seguinte pergunta: com todas as transformações que a produção musical vem sofrendo, será que a música de hoje deixará clássicos para o futuro? A questão lida com a relação entre o artista e o público. A capacidade de um artista mobilizar um número significativo de fãs e ser lembrado depois – afinal, a música parece ter uma vida cada vez mais curta. A revista trouxe esse mês uma artista que viu seu mais recente trabalho nascer da preocupação com a efemeridade da arte e da necessidade de compartilhar suas criações.

Meredith Monk, cantora americana, trouxe com o espetáculo Impermanência a ambição de aumentar o número de influenciados por sua obra e construir um legado musical. O que a repórter Elisa Tozzi nos mostra, no entanto, é justamente que a artista, antes mesmo da criação deste espetáculo, já havia atingido seu objetivos. Lendo os exemplos que a repórter traz para demostrar isso, percebi que tinha razão, apesar de eu nunca ter ouvido o nome da cantora antes.

Meredith não está entre os nomes conhecidos pelo grande público, mas está relacionado a nomes certamente familiares ao leitor da Bravo!. Suas músicas estão em filmes de Godard e dos irmãos Coen.  Sua técnica vocal está presente nos trabalhos de Björk, sua admiradora cena de Impermanênciadesde os 16 anos (na matéria do Estadão sobre Meredith, ela é considerada mãe da islandesa). Chegou também ao Brasil, no trabalho do grupo paulistano Mawaca. Mostra-se que o legado não está relacionado a um sucesso comercial, mas justamente à capacidade de produzir mais cultura.

A matéria pecou por não explicar melhor qual é o legado da cantora. Fala-se, por exemplo, em integrar diversas áreas da arte, mas não como isso é realizado. Apenas lendo o texto, não consegui imaginar como seria o som, ainda mais porque Meredith extrapola o conceito convencional de música. Fotos do espatáculo talvez ajudariam, já que se trata de uma apresentação performática. No canto da página, no entanto, havia um aviso remetendo ao site da revista: “conheça o trabalho da multiartista e dos que foram influenciados por ela”. Estou até agora procurando este material no site. Avise-me quem achar!

November 21, 2008 at 2:45 am Leave a comment

Tchubaruba até cansar

Thaís Viveiro

O repórter Armando Antenore já havia sugerido uma pauta sobre a jovem Mallu Magalhães há algum tempo, logo quando a cantora começou a despontar, contou João Gabriel, editor de conteúdo da revista,  no último encontro Bravo!. A matéria, no entanto, saiu apenas em outubro, depois de muito já se ter ouvido sobre a garota de 16 anos.

mallu_magalhaes-552x367Ainda assim, o repórter conseguiu trazer fatos novos e interessantes sobre a vida de Mallu e o começo pouco convencional de sua carreira. Armando Antenore mergulhou nos pensamentos e mostrou os passos que fizeram a cantora de Tchubaruba  se tornar a representante brasileira daqueles que fazem parte de uma nova lógica da indústria fonográfica. A matéria, no entanto, teria sido muito mais surpreendente se feita assim que a pauta foi sugerida.

O episódio me fez refletir sobre a razão de ser do jornalismo cultural. Se o artista já pode se dar ao luxo de construir sua carreira sem assinar contrato com gravadoras, a mídia continua sendo essencial para que ele amplie seu público. De acordo com a matéria, o MySpace da Mallu Magalhães (onde primeiro divulgou seu trabalho) beirava 200 acessos em outubro de 2007. No final de janeiro do ano seguinte, depois de o jornalista musical Lúcio Ribeiro escrever uma nota sobre a garota em seu blog, sua página ultrapassava os 70 mil acessos. Do blog para a grande imprensa, da grande imprensa para o Jô Soares e comerciais de celular. A mídia construiu esse “fênomeno pop” ao qual a matéria se refere.

O público, da mesma forma, também depende da imprensa para ampliar seu repertório. Mesmo com a infinidade de informação disponível na Internet, o leitor agradece quando alguém pode guiá-lo, sobretudo aquele leitor que não é especialista no assunto. A mídia, pela autoridade que carrega, acaba conferindo um certo “certificado de qualidade” aos produtos culturais, como se dissesse “vale a pena ouvir isso”. O jornalista e seu editor, portanto, devem arriscar buscando novos artistas ao invés de repercutir o que está na mídia. E não seguir o que tem sido a “estratégia” fácil de grande parte das gravadoras nos últimos anos de investir sempre nos mesmos nomes, até que o público se canse. Assim como o artista, o jornalista deve usar a Internet a seu favor.

Antes e depois da revolução

É papel dos jornalista ainda suscitar debates e reflexões sobre os rumos da cultura, o que foi muito bem realizado no encontro Bravo! (o tema foi “Como a Internet mudou o mundo da música popular”). A revista, no entanto, não fez o mesmo, apesar de ter todos os ingredientes para isso: duas matéria consecutivas falando sobre períodos contrastantes da produção musical. A matéria seguinte, já comentada por Eduardo Hiraoka, trata um dos maiores executivos da indústria fonográfica que o país já teve. O leitor fica com o choque entre os dois momentos ao virar as páginas, mas nenhuma ponte é estabelecida entre eles de forma mais crítica.

November 13, 2008 at 11:52 pm 1 comment

Portela aberta aos leitores

Thaís Viveiro

Marisa Monte, Paulinho da Viola e Zeca Pagodinho na Feijoada da Portela

A matéria “A Cidade da Delicadeza” pode assustar o leitor da BRAVO em suas primeiras linhas (tive que me certificar de que eu estava lendo esta revista mesmo). Ao invés de um texto jornalístico com  entrevistas, história e curiosidades sobre a Portela, esta matéria é um relato escrito por um freqüentador da feijoada que acontece todo primeiro sábado do mês na quadra da Portela. Paulo Roberto Pires é jornalista e editor, mas aqui é sua veia de romancista que mostra as caras.

“Gostaria eu de cantar a história da Portela. Para mal e para bem, só posso falar do presente, frágil e fascinante”, conta ao final do texto. Éexatamente isso que ele fez (e muito bem, diga-se de passagem). Apesar de o gancho da matéria ser o filme “O mistério do samba”, que entrou em cartaz em setembro, em momento algum o filme é citado. Mas são pintadas várias cenas ao longo do texto que constroem o mundo da Portela.

Optou-se por um foco que não o cinema ou a música, como seria esperado. O objetivo aqui é mostrar o que acontece nas quadras da Portela. “Um dos meus maiores prazeres é apresentar a quadra a alguém”, confessa o autor ao abrir as portas do local aos leitores. Desta forma, apresenta-se o ambiente que cerca a música popular,o que pode fazer com que os leitores mais interessados pela cultura erudita (parte significativa do público da revista) considerem o popular sob outro prisma.

A matéria não esconde a subjetividade de seu autor, cuja relação com o tema é indicada logo na linha-fina. O tom empregado vai de encontro ao objetivo da revista de trazer textos autorais, com um pé na literatura, como foi ressaltado na carta do editor na edição de junho deste ano. A escolha por um estilo mais pessoal foi muito pertinente, uma vez que apenas um conhecedor e admirador da Portela poderia fazer um mergulho em seu mundo. Um mundo que “é maior que o samba, maior do que a vida – é do tamanho o mundo”, segundo o autor. Para mostrar que este universo não está em extinção, ele conta diversos episódios que lá vivenciou, alguns tão simples como o do casal que se formou por causa de uma coincidência de nomes.

Ao meu ver,o texto não apresentou nenhuma falha, mas a seção de música deste mês deixou muito a desejar, assim como foi apontado por Carolina Rossetti a respeito da editoria de artes cênicas. Este matéria veio em má hora, pois ela apenas não satisfaz o leitor que abre a BRAVO à procura de música, já que se optou por não ter esta como foco. Não um erro do texto, mas do equilíbrio da revista.

October 5, 2008 at 2:22 am Leave a comment

A vinda de Coleman

Thaís Viveiro

Não conhecia Ornette Coleman antes de ler a matéria “A Volta do Revolucionário” da edição de agosta da O lendário ColtraneBRAVO!.  O título pouco significava para mim . No entanto, o autor, José Alberto Bombig, teve a astúcia de colocar este nome ao lado de Coltrane – um figura do jazz muito conhecida, mesmo para aqueles que pouco conhecem o estilo. Ornette Coleman se tornou interessante por tabela a partir do uso de um conhecimento prévio do leitor.

Coltrane e Coleman são colocados a pé de igualdade, ambos revolucionários. José Alberto Bombig mostra a diferença entre eles logo no início da matéria: o primeiro morreu em 1967, enquanto que o segundo sobreviveu, carregando a difícil tarefa de continuar revolucionando. Isso explica porque um nome foi praticamente canonizado e o outro, um tanto desgastado pelo tempo. E explica também porque talvez o leitor não conheça Coleman, mas deve conhecer. E se deve conhecer, nada melhor do que sua biografia.

O agora conhecido ColemanA história do saxofonista está muito bem contada, pinçando episódios interessantes de sua vida e da construção de sua carreira. Ao apresentar as dificuldades que enfrentou, cada vez mais é evidenciado seu aspecto de revolucionário, tornando verdadeira a comparação inicial. Alguns nomes contribuem para legitimar sua vitória, como o de Miles Davis.

Depois da apresentação, finalmente surge o assunto central da matéria: o novo trabalho de Coleman, Sound Grammar. Senti, no entanto, que ele foi abordado superficialmente (praticamente em dois parágrafos). No momento em que o leitor acaba de se familiarizar com o tema, o texto subitamente termina. Se acaso o leitor já conhecesse o saxofonista, pouco a matéria lhe acrescentaria.

Apesar de o jornalista ter entrevistado Coleman, ele parece muito distante. Esse material poderia ter sido mais aproveitado, acrescentando inclusive mais informações sobre Sound Grammar. Isso contribuiria para dar um desfecho melhor à matéria, deixando-a mais completa.

O êxito da matéria é atrair o leitor para um personagem que talvez lhe seja desconhecido. Chamar a atenção para um novo assunto é sempre mais difícil. Mas sempre mais enriquecedor para quem lê. Faltou apenas explicar um pouco mais a “volta” do personagem, como é sugerido no título.

September 17, 2008 at 1:01 am Leave a comment