Portela aberta aos leitores

October 5, 2008 at 2:22 am Leave a comment

Thaís Viveiro

Marisa Monte, Paulinho da Viola e Zeca Pagodinho na Feijoada da Portela

A matéria “A Cidade da Delicadeza” pode assustar o leitor da BRAVO em suas primeiras linhas (tive que me certificar de que eu estava lendo esta revista mesmo). Ao invés de um texto jornalístico com  entrevistas, história e curiosidades sobre a Portela, esta matéria é um relato escrito por um freqüentador da feijoada que acontece todo primeiro sábado do mês na quadra da Portela. Paulo Roberto Pires é jornalista e editor, mas aqui é sua veia de romancista que mostra as caras.

“Gostaria eu de cantar a história da Portela. Para mal e para bem, só posso falar do presente, frágil e fascinante”, conta ao final do texto. Éexatamente isso que ele fez (e muito bem, diga-se de passagem). Apesar de o gancho da matéria ser o filme “O mistério do samba”, que entrou em cartaz em setembro, em momento algum o filme é citado. Mas são pintadas várias cenas ao longo do texto que constroem o mundo da Portela.

Optou-se por um foco que não o cinema ou a música, como seria esperado. O objetivo aqui é mostrar o que acontece nas quadras da Portela. “Um dos meus maiores prazeres é apresentar a quadra a alguém”, confessa o autor ao abrir as portas do local aos leitores. Desta forma, apresenta-se o ambiente que cerca a música popular,o que pode fazer com que os leitores mais interessados pela cultura erudita (parte significativa do público da revista) considerem o popular sob outro prisma.

A matéria não esconde a subjetividade de seu autor, cuja relação com o tema é indicada logo na linha-fina. O tom empregado vai de encontro ao objetivo da revista de trazer textos autorais, com um pé na literatura, como foi ressaltado na carta do editor na edição de junho deste ano. A escolha por um estilo mais pessoal foi muito pertinente, uma vez que apenas um conhecedor e admirador da Portela poderia fazer um mergulho em seu mundo. Um mundo que “é maior que o samba, maior do que a vida – é do tamanho o mundo”, segundo o autor. Para mostrar que este universo não está em extinção, ele conta diversos episódios que lá vivenciou, alguns tão simples como o do casal que se formou por causa de uma coincidência de nomes.

Ao meu ver,o texto não apresentou nenhuma falha, mas a seção de música deste mês deixou muito a desejar, assim como foi apontado por Carolina Rossetti a respeito da editoria de artes cênicas. Este matéria veio em má hora, pois ela apenas não satisfaz o leitor que abre a BRAVO à procura de música, já que se optou por não ter esta como foco. Não um erro do texto, mas do equilíbrio da revista.

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Sucesso colorido! Luis está online

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